Eu aprendi a beber café gelado e é tudo culpa das redes sociais. Não, eu não tô falando de café com gelo, aesthetic e canudo. Eu tô falando que, entre passar o café e beber o café, eu fiz tanta coisa que ele não está mais quente. Fez cara de repulsa, né? Eu sei.
Eu vivi a implementação da internet nas nossas casas, discada, em que você precisava esperar até meia-noite pra entrar no universo virtual. A era do “oi, quer tc?”, até a implementação das redes sociais no celular e, depois, vieram celulares com câmeras, Instagram, stories, reels e tempo curto de vídeos.
Quando eu tinha tempo e prazer em ler um jornal inteiro, em mandar cartas e esperar o tempo das coisas... agora nós vivemos várias coisas ao mesmo tempo. E você faz exatamente tudo vendo vídeos que só conseguem captar sua atenção por 6s — e isso se tiver gancho, porque, se não, ele vai de arrasta. Nessa mesma era, eu virei adulta, com responsabilidades dentro e fora de casa. E sabe o que aconteceu? Tudo virou urgente. Lembra que eu disse ser pragmática? Eu não consigo focar numa tarefa até o fim sem pausas, porque meu cérebro foi condicionado a ficar satisfeito muito rápido. Então eu coloco água pra ferver, vou lavar a louça, vou na sala pegar o pó de café, mas vejo que o gato tá sem comida, lembro que preciso ver a caixa de areia, o que me leva a varrer a sala, o que me leva ao lixo... e a chaleira está apitando há um tempão, mas só entra no meu foco de atenção quando eu passo pela cozinha pra levar o lixo que tirei do chão. Sim, eu comprei uma chaleira que apita, por motivos óbvios: eu esqueço da água no fogo até ela secar. Então a chaleira me avisa.
Eu estou tentando voltar a fazer uma coisa de cada vez, mas, vou te falar, é uma tortura pra mente ensinar a ela que começar uma tarefa não pode dar a satisfação de “feito” pro cérebro, e sim terminar a tarefa. Daí você me pergunta: “E aí, fica tarefa pra trás, porque você começou tantas que esqueceu a primeira?” Não, mas precisei aliviar minha mente de ter que lembrar das tarefas anotando no papel. Pelo menos as mais importantes, que, de fato, eram as que eu menos completava. Porque eu sempre começo por elas, e aí me distraio com as menos importantes que vão aparecendo no caminho.
Se seu cérebro não está tão ruim quanto o meu, você chegou ao fim do desabafo. Ou, como diz nossa mãe, Lela Brandão: “Esse é o choro da semana.”